quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Sagrado Coração de Jesus

 

Legionário, N.º 458, 22 de junho de 1941 - Plinio Corrêa de Oliveira


Insistentemente, tem os Santos Padres recomendado que a humanidade intensifique o culto que presta ao Sagrado Coração de Jesus a fim de que, regenerado o homem pela graça de Deus e compreendendo que deve ser Deus o centro de seus afetos, possa reinar novamente no mundo aquela tranqüilidade da ordem, da qual mais distante estamos, quanto mais o mundo descamba pela anarquia.
Assim, não poderia um jornal Católico deixar desapercebida a festa que há dias transcorreu do Sagrado Coração. Não se trata apenas de um dever de piedade imposto pela própria ordem das coisas, mas de um dever que a tragédia contemporânea torna mais tragicamente premente.
                                      * * *
Não há quem não se alarme com os extremos de crueldade a que pode chegar o homem contemporâneo. Essa crueldade não se atesta apenas nos campos de batalha. Ela transparece a cada passo, nos grandes e nos pequenos incidentes da vida de todo o dia, através da extraordinária dureza e frieza de coração com que a generalidade das pessoas trata seus semelhantes.
As mães em cujas entranhas decresce de intensidade o amor pelos filhos; os maridos que atiram à desgraça um lar inteiro, com o único intuito de satisfazer seus próprios instintos e paixões; os filhos que, indiferentes à miséria ou ao abandono moral em que deixam seus pais, voltam todas as suas vistas para a fruição dos prazeres desta vida; os profissionais que se enriquecem às custas do próximo, mostram muitas vezes uma crueldade fria e calculada, que causa muito mais horror do que os extremos de furor a que a guerra pode arrastar os combatentes. Realmente, se bem que na guerra os atos de crueldade se possam mais facilmente aquilatar, os que os praticam tem, se não a desculpa, ao menos a atenuante de que são impelidos pela violência do combate. Mas aquilo que se trama e se realiza na tranqüilidade da vida quotidiana não pode muitas vezes beneficiar-se de igual atenuante. E isto sobretudo quando não se trata de ações isoladas, mas de hábitos inveterados que multiplicam indefinidamente as más ações.
A guerra, tal qual ela é hoje feita, é um índice de crueldade, mas está longe de ser a única manifestação da dureza moral contemporânea.
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Quem diz crueldade diz egoísmo. O homem só prejudica seu próximo por egoísmo, por desejar beneficiar-se de vantagens a que não tem direito. Assim, pois, o único meio de extirpar a crueldade consiste em extirpar o egoísmo.
Ora, a teologia nos ensina que o homem só pode ser capaz de verdadeira e completa abnegação de si mesmo quando seu amor ao próximo é baseado no amor de Deus. Fora de Deus não há, para os afetos humanos, estabilidade nem plenitude. Ou o homem ama a Deus a ponto de se esquecer de si mesmo, e neste caso ele saberá realmente amar o próximo; ou o homem se ama a ponto de se esquecer de Deus, e, neste caso, o egoísmo tende a dominá-lo completamente.
Assim, é só aumentando nos homens o amor de Deus, que se poderá conseguir deles uma profunda compreensão de seus deveres para com o próximo. Combater o egoísmo é tarefa que implica necessariamente em “dilatar os espaços do amor de Deus”, segundo a belíssima frase de Santo Agostinho.
Ora, a festa do Sagrado Coração de Jesus é, por excelência, a festa do amor de Deus. Nela, a Igreja nos propõe como tema de meditações e como alvo de nossas preces o amor terníssimo e invariável de Deus que, feito homem, morreu por nós. Mostrando-nos o Coração de Jesus a arder de amor a despeito dos espinhos com que O circundamos por nossas ofensas, a Igreja abre para nós a perspectiva de um perdão misericordioso e largo, de um amor infinito e perfeito, de uma alegria completa e imaculada, que devem constituir o encanto perene da vida espiritual de todos os verdadeiros católicos.
Amemos o Sagrado Coração de Jesus. Esforcemo-nos por que essa devoção triunfe autenticamente (e não apenas através de alguns simbolismos da realidade) em todos os lares, em todos os ambientes e, sobretudo, em todos os corações. Só assim conseguiremos reformar o homem contemporâneo.
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Ad Jesum per Mariam”. Por Maria é que se vai a Jesus. Escrevendo sobre a festa do Sagrado Coração, como não dizer uma palavra de comoção filial ante esse Coração Imaculado que, melhor do que qualquer outro, compreendeu e amou o Divino Redentor? Que Nossa Senhora nos obtenha algumas faiscas daquela imensa devoção que tinha ao Sagrado Coração de Jesus. Que Ela consiga atear em nós um pouco daquele incêndio de amor com que Ela ardeu tão intensamente, são nossos votos dentro desta oitava suave e confortadora.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Escudo do Sagrado Coração de Jesus

Uma devoção mais atual e necessária do que nunca para a efetiva obtenção do que há 2000 anos todos os verdadeiros cristãos vêm pedindo, quando rezam: “Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa Vontade, assim na Terra como no Céu”.

                                                              • Helvécio Alves

Se hoje Nosso Senhor Jesus Cristo voltasse à Terra, poderia ser novamente crucificado! Por quê? Por que tanta maldade contra Aquele a Quem devemos nossa salvação? Contra Aquele que se ofereceu como vítima para redimir os pecados dos homens? Contra Alguém que só deseja o nosso bem?
Para responder tudo numa só frase: a espantosa ingratidão dos homens.
Ingratidão que, devido aos nossos pecados, à dureza de nossos corações, impede-nos de corresponder ao amor do Divino Redentor, que ofereceu sua vida por nós.  Que nos impede sermos gratos, amando sobre todas as coisas Aquele que  tanta dileção teve pelos homens e por eles foi tão pouco amado.
Devido a essa incorrespondência da humanidade a seu Criador, ela se encontra atualmente submersa numa corrupção moral generalizada e sem precedentes.
Mas abandonaria a Providência Divina os homens, deixando-os entregues a si mesmos, afundados em sua impiedade e depravações?
Não. Apesar de todas as ofensas contra Aquele que morreu por nós, a inesgotável misericórdia de Deus jamais abandona os homens, mesmo quando envia seus justos e imprescindíveis castigos. Ela nunca deixa de dispensar abundantes graças, incitando os homens ao arrependimento. Mas é necessário reparar o pecado cometido, retornar à observância dos Mandamentos, e, mediante a conversão, alcançar o perdão e as graças tão necessárias para uma vida virtuosa e a salvação eterna.
Para isso, sem dúvida, uma das maiores graças é a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Desse adorável Coração, transpassado pela lança de Longinus, jorrou sangue e água no alto do Calvário, para nos salvar (cfr. Jo 19,34). Desse adorável Coração, ainda em nossos dias, e apesar de nossas ingratidões, tibiezas e desprezos, as graças jorram abundantes para todos aqueles que sinceramente as desejem. Basta que as peçamos com toda confiança.

“Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rom 5,20)


Ainda atualmente ecoam as sublimes palavras de 328 anos atrás. Palavras que soam num timbre divino, como vindas da eternidade, pronunciadas entretanto no recolhimento de um humilde convento, mas que atravessam os séculos. Foram dirigidas a uma privilegiadíssima freira do convento da Visitação de Santa Maria, em Paray-le-Monial (Borgonha, França). Trata-se de Santa Margarida Maria Alacoque (1647 - 1690).
            Estava ela rezando diante do Santíssimo Sacramento, a 16 de junho de 1675, quando Nosso Senhor lhe aparece. Depois de um breve diálogo, Ele aponta para seu próprio Coração e diz:
            “Eis aqui o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para testemunhar-lhes seu amor; e, por reconhecimento, não recebe da maior parte deles senão ingratidões, por suas irreverências, sacrilégios e pelas indiferenças e desprezos que têm por Mim no Sacramento do amor. Mas o que Me é ainda mais penoso é que corações que Me são consagrados agem assim.
           "Por isso, Eu te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa especial para honrar meu Coração, comungando-se neste dia e fazendo-Lhe um ato de reparação, em satisfação das ofensas recebidas durante o tempo que estive exposto nos altares. Eu te prometo também que meu Coração se dilatará para distribuir com abundância as influências de seu divino amor sobre aqueles que Lhe prestem culto e que procurem que Lhe seja prestado".¹

 Para impulsionar o piedoso costume de portar consigo o Escudo, o Bem-aventurado Pio IX concedeu, em 1872, 100 dias de indulgência para todos os que, portando essa insígnia, rezassem diariamente um Padre Nosso, uma Ave Maria e um Glória ao Pai 8.
Depois disso, o Santo Padre compôs esta bela oração:
“Abri-me o vosso Sagrado Coração, ó Jesus!... mostrai-me os seus  encantos, uni-me a Ele para sempre. Que todos os movimentos e palpitações do meu coração, mesmo durante o sono, Vos sejam um testemunho do meu amor e Vos digam sem cessar: Sim, Senhor Jesus, eu Vos adoro... aceitai o pouco bem que pratico... fazei-me a mercê de reparar o mal cometido... para que Vos louve no tempo e Vos bendiga durante toda a eternidade. Amém” 9.


“O Sagrado Coração será a salvação do mundo”

            Entretanto, apesar do pungente dessa revelação — bem como das demais promessas de Paray-le-Monial —, hoje ela caiu no esquecimento. Não podemos permanecer ingratos e indiferentes diante dessa suprema manifestação de bondade e amor. Temos uma premente necessidade de desagravar o Sagrado Coração de Jesus, atender seu pedido e difundir seu culto. Nossa reparação atrairá a misericórdia de Deus e as abundantes graças indispensáveis para a salvação da humanidade, tão distanciada dos preceitos divinos.
“A Igreja e a sociedade não têm outra esperança senão no Sagrado Coração de Jesus; é Ele que curará todos os nossos males. Pregai e difundi por todas as partes a devoção ao Sagrado Coração, ela será a salvação para o mundo”2 . Essa impressionante afirmação é do Papa Pio IX (1846-1878) — recentemente beatificado — ao Padre Julio Chevalier, fundador dos Missionários do Coração de Jesus, mostrando que nessa devoção depositava toda sua esperança.

Poderosa proteção que nos vem do Céu

A revista Catolicismo, já em diversas ocasiões, tem divulgado matérias sobre a devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus (por exemplo, nas edições de junho/1986, julho/1988, junho/1992 e junho/1994). No presente mês de junho, que tem todos os seus dias consagrados ao Sagrado Coração, e cuja festa principal comemoramos no dia 27, desejamos abordar, entre as várias e magníficas promessas desse adorável Coração, uma que ainda não apresentamos nestas páginas: a devoção ao Detente, o Escudo do Sagrado Coração de Jesus.
Essa piedosa prática, outrora  muito difundida entre os católicos, é um modo simples, mas esplêndido, de manifestarmos permanentemente nossa gratidão e amor ao Sagrado Coração, vítima de nossos pecados. E, ao mesmo tempo, d´Ele recebermos inúmeros benefícios e uma proteção extraordinária contra todos os perigos. Esse é o tema que passaremos a expor.

O que é um Detente? Uma armadura espiritual?

É um poderoso Escudo que a Divina Providência colocou à nossa disposição, a fim de nos proteger contra os mais diversos perigos que enfrentamos em nosso dia-a-dia. Para isso, basta levá-lo consigo, não havendo necessidade de ser bento, pois o bem-aventurado Papa Pio IX estendeu sua bênção a todos os Escudos — como veremos adiante.
            Detente, ou Escudo do Sagrado Coração de Jesus — também conhecido como bentinho, salvaguarda, ou mesmo como pequeno escapulário do Sagrado Coração — é um emblema com a imagem do Sagrado Coração e a divisa: Alto! O Coração de Jesus está comigo. Venha a nós o Vosso Reino!
É comum levarmos no bolso, ou em nossas carteiras, pastas etc., fotografias de pessoas a quem muito queremos (pais ou filhos, por exemplo). Assim, ter consigo o Detente é um meio de expressar nosso amor ao Sagrado Coração de Jesus; sinal de nossa confiança em sua proteção contra as armadilhas do demônio e perigos de toda ordem. Levando conosco esse Escudo, estaremos continuamente como que afirmando: Alto! Detenha-te, demônio; detenha-se toda maldade; todo perigo; todo desastre;  detenham-se  todos os assaltos; todas as balas de bandidos; todas as tentações; detenha-se todo inimigo; toda enfermidade; detenham-se nossas paixões desordenadas — pois o Sagrado Coração de Jesus está comigo!
Portar esse Escudo auxilia-nos, além dessas e de tantas outras proteções, a recordar continuamente as promessas do Sagrado Coração de Jesus; é símbolo de nossa total confiança na proteção divina; é um sinal de nossa permanente súplica e fidelidade a Nosso Senhor e um pedido de que Ele faça nossos corações semelhantes ao d’Ele.

Origem do Escudo do Sagrado Coração de Jesus

            Santa Margarida Maria Alacoque — como testemunha sua carta, escrita no dia 2 de março de 1686, dirigida à sua Superiora, Madre Saumaise — transcreve um desejo que lhe fora revelado por Nosso Senhor: “Ele deseja que a Senhora mande fazer uns escudos com a imagem de seu Sagrado Coração, a fim de que todos aqueles que queiram oferecer-Lhe uma homenagem, os coloquem em suas casas; e uns  menores, para as pessoas levarem consigo”3. Nascia, assim, o costume de portar esses pequenos Escudos.
Essa santa devota do Detente portava-o sempre consigo e convidava suas noviças a fazerem o mesmo. Ela confeccionou muitas dessas imagens e dizia que seu uso era muito agradável ao Sagrado Coração. 
            A autorização para tal prática, no início, foi concedida somente aos conventos da Visitação. Depois, foi mais difundida pela Venerável Ana Magdalena Rémuzat (1696-1730). A essa religiosa, também da mesma Ordem da Visitação, falecida em alto conceito de santidade, Nosso Senhor fez saber antecipadamente o dano que causaria uma grave epidemia na cidade francesa de Marselha, em 1720, bem como o maravilhoso auxílio que os marselheses receberiam com a devoção a seu Sagrado Coração. A referida visitandina fez, com a ajuda de suas irmãs de hábito, milhares desses Escudos do Sagrado Coração e os repartiu por toda a cidade onde grassava a peste.
A história registra que, pouco depois, a epidemia cessou como por milagre. Não contagiou muitos daqueles que portavam o Escudo, e as pessoas contagiadas tiveram um extraordinário auxílio com essa devoção. Em outras localidades ocorreram fatos análogos. A partir de então, o costume se estendeu por outras cidades e países 4 .

Escudo distintivo de contra-revolucionários

Em 1789, eclodiu na França, com trágicas conseqüências para o mundo inteiro, um flagelo muitíssimo mais terrível que qualquer epidemia: a calamitosa Revolução Francesa.
Nesse período, os verdadeiros católicos encontraram amparo no Sacratíssimo Coração de Jesus, e o Escudo protetor era levado por muitos sacerdotes, nobres e populares que resistiram à sanguinária Revolução anticatólica. Até mesmo senhoras da corte, como a Princesa de Lamballe, portavam esses Escudos bordados preciosamente em tecidos. E o simples fato de levá-los consigo transformou-se no sinal distintivo daqueles que eram contrários à Revolução Francesa.
Entre os pertences da Rainha Maria Antonieta, guilhotinada pelo ódio revolucionário, encontraram um desenho do Sagrado Coração, com a chaga, a cruz e a coroa de espinhos, e os dizeres: “Sagrado Coração de Jesus, tende misericórdia de nós!” 5.
Outra Rainha de França, também devota do Detente, foi Maria Leszczynska. Em 1748 ela recebeu de presente, do Papa Bento XIV, vários Escudos do Sagrado Coração, por ocasião de seu matrimônio com o Rei Luís XV. De acordo com as memórias desse tempo, entre os presentes enviados pelo Pontífice havia “muitos Escudos do Sagrado Coração, feitos em tafetá vermelho e bordados em ouro” 6.

Heroísmo dos devotos do Sagrado Coração de Jesus

Na região da Mayenne (oeste da França), os Chouans — heróicos resistentes católicos, que enfrentaram com bravura e ardor religioso os revolucionários franceses de 1789 — bordavam em seus trajes e bandeiras o Escudo do Sagrado Coração de Jesus. Era como se fosse um brasão e, ao mesmo tempo, uma armadura: “brasão” usado para reafirmar sua Fé católica; “armadura” para defenderem-se contra as investidas adversárias.
Também como “armadura espiritual”, esse Escudo foi ostentado por muitos outros líderes e heróis católicos que morreram ou lutaram em defesa da Santa Igreja, como os bravos camponeses seguidores do aguerrido tirolês Andreas Hofer (1767-1810), conhecido como “o Chouan do Tirol”. Esses portavam o Escudo para se protegerem nas lutas contra as tropas napoleônicas que invadiram o Tirol.
            Um fato histórico semelhante ocorreu, na época atual, em Cuba. Os católicos cubanos que não se deixaram subjugar pelo regime comunista, e o combateram, tinham especial devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Quando presos e levados para o “paredón” (onde eram sumariamente fuzilados), enfrentaram os carrascos fidelcastristas bradando “Viva Cristo Rei! — seguindo o exemplo de seus irmãos no ideal católico, os Cristeros, no México, também martirizados por ódio à Fé, no início do século XX.
            Na antiga Pérola das Antilhas (atual Ilha Presídio) antes de ser escravizada pela tirania de Fidel Castro, havia muitas estátuas do Sagrado Coração de Jesus em suas bem arborizadas praças. Mas, após a dominação comunista, as belas estátuas do Sagrado Coração de Jesus foram derrubadas e — pasme o leitor — substituídas por estátuas de Che Guevara... A estátua do guerrilheiro que tinha suas mãos tintas de sangue inocente, desse revolucionário que fez correr um rio de sangue por vários países latino-americanos, colocada em lugar da imagem do Sagrado Coração, que representava a misericórdia divina e o perdão!

O bem-aventurado Papa Pio IX e o Detente

            Em 1870, uma senhora romana, desejando saber a opinião do Sumo Pontífice Pio IX a  respeito do Escudo do Sagrado Coração de Jesus, apresentou-lhe um. Comovido à vista desse sinal de salvação, o Papa concedeu aprovação definitiva  a tal devoção e disse: “Isto é, senhora, uma inspiração do Céu. Sim, do Céu”. E, depois de breve recolhimento, acrescentou:
Vou benzer este Coração, e quero que todos aqueles que forem feitos segundo este modelo  recebam esta mesma bênção, sem ser necessário que algum outro padre a renove. Ademais, quero que Satanás de modo algum possa causar dano àqueles que levem consigo o Escudo, símbolo do Coração adorável de Jesus”7.
    Para impulsionar o piedoso costume de portar consigo o Escudo, o Bem-aventurado Pio IX concedeu, em 1872, 100 dias de indulgência para todos os que, portando essa insígnia, rezassem diariamente um Padre Nosso, uma Ave Maria e um Glória ao Pai 8.


Depois disso, o Santo Padre compôs esta bela oração:
“Abri-me o vosso Sagrado Coração, ó Jesus!... mostrai-me os seus  encantos, uni-me a Ele para sempre. Que todos os movimentos e palpitações do meu coração, mesmo durante o sono, Vos sejam um testemunho do meu amor e Vos digam sem cessar: Sim, Senhor Jesus, eu Vos adoro... aceitai o pouco bem que pratico... fazei-me a mercê de reparar o mal cometido... para que Vos louve no tempo e Vos bendiga durante toda a eternidade. Amém” 9.

O Escudo em ocasiões de grande perigo

Em nossos tempos em que, devido à violência avassaladora e generalizada, os perigos nos ameaçam de todos os lados, é de primordial importância o uso do  Escudo do Sagrado Coração de Jesus. Levando-o conosco — pode-se também colocá-lo em nossa casa, junto ao material escolar dos filhos, no automóvel, local de trabalho, sob o travesseiro de um enfermo etc. — estaremos, no interior de nossas almas, como que repetindo o que disse o Apóstolo São Paulo: “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” (Rom 8,31). Pois não há perigo de que Ele não possa nos livrar. E mesmo em meio às dificuldades que a Providência envie para nos provar, estaremos confiantes na proteção divina, que nunca abandona aqueles que recorrem pedindo amparo e proteção.
 Evidentemente, se nosso pedido de auxílio for feito por meio da Santíssima Mãe de nosso Divino Redentor, Ele nos ouvirá com muito mais agrado e mais rapidamente nos atenderá. Pois Ele a constituiu Medianeira de todas as graças, dando-nos assim uma prova ainda maior de amor, ao nos dar por Mãe sua própria Mãe.


O reinado social do Coração de Jesus e Maria

“Nada nos pode dar maior confiança, esperança mais fundada, estímulo mais certo, do que a convicção de que em todas as nossas misérias, em todas as nossas quedas, não temos apenas, a nos olhar com o rigor de Juiz, a infinita Santidade de Deus, mas também o coração cheio de ternura, de compaixão, de misericórdia, de nossa Mãe Celeste” . Escreveu Plinio Corrêa de Oliveira nas páginas do "Legionário".
O inolvidável fundador da TFP prossegue: “Onipotência suplicante, Ela saberá conseguir para nós tudo quanto nossa fraqueza pede para a grande tarefa de nosso reerguimento moral. Com este coração, todos os terrores se dissipam, todos os desânimos se esvaem, todas as incertezas se desanuviam. O Coração Imaculado de Maria é a Porta do Céu, aberta de par em par aos homens de nosso tempo, tão extremamente fracos. E esta porta, ninguém a poderá fechar — nem o demônio, nem o mundo, nem a carne.


Em Fátima, no dia 13-7-1917 — mais de três séculos após as aparições de Paray-le-Monial — Nossa Senhora confirma indiretamente a revelação feita à santa confidente do Sagrado Coração de Jesus, quando afirmou categoricamente: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.
É a confirmação da vitória final, com a efetivação da realeza sagrada do Coração de Jesus e Maria sobre a Terra inteira; do restabelecimento do reino social de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre todos os corações, sobre todos os povos.
Com a realização dessas duas grandes promessas, estará sendo atendida a súplica que há 2000 anos a Cristandade vem fazendo, ao rezar o Padre Nosso: “Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa Vontade, assim na Terra como no Céu” (Mt 6,9-13). O que — vem a propósito relembrar, no final deste artigo — corresponde à inscrição que consta na parte inferior do maravilhoso Escudo do Sagrado Coração de Jesus.


Fontes:



Fazer apostolado é, essencialmente, salvar almas. Aos que se interessam pelo apostolado, nada deve importar mais do que o conhecimento das devoções providenciais com que o Espírito Santo enriquece a Santa Igreja em cada época, para a utilidade das almas. O Sumo Pontífice atualmente reinante [Pio XII] aponta duas devoções: a do Sagrado Coração de Jesus, a do Coração Imaculado de Maria.
Aparecendo em Fátima, Nossa Senhora disse textualmente aos pastorinhos que uma intensa devoção ao Coração Imaculado de Maria seria o meio de salvação do mundo contemporâneo. Milagres sem conta têm atestado a autenticidade da mensagem celeste. Não nos resta senão conformarmo-nos ao ditame que dela decorre. Se essa é a salvação do mundo, se queremos salvar o mundo, apregoemos o meio providencial para sua salvação. No dia em que tivermos legiões de pessoas verdadeiramente devotas do Coração Imaculado de Maria, o Coração de Jesus reinará sobre o mundo inteiro. Com efeito, essas duas devoções não se podem separar. A devoção a Maria Santíssima é a atmosfera própria da devoção a Nosso Senhor. O verão traz as flores e os frutos. A devoção a Nossa Senhora gera como fruto necessário o amor sem reservas a Nosso Senhor Jesus Cristo. E, no dia em que o mundo inteiro voltar a Jesus por Maria, o mundo estará salvo” 10.

Analogia entre Paray-le-Monial e Fátima
           
Em Paray-le-Monial, Nosso Senhor disse a Santa Margarida Maria Alacoque: “Não receeis nada; Eu reinarei apesar de meus inimigos e de todos aqueles  que a isso queiram se opor” 11.